UM PUNHADO DE NADA EM 50 ANOS DE INDEPENDÊNCIA DO MPLA

Não sou político profissional, nem tenho pretensão a tal. Não tenho perfil para bajulador institucional, por o objecto desta tribo não assentar em valores, mas em preço, âncora de mordomias e enriquecimento ilícito. Sou amante das liberdades, hasteando a de imprensa, abomino quem age com dolo, em prejuízo da realidade e do sofrimento da maioria dos 20 milhões de pobres.

Por William Tonet

O povo está a sofrer. Muito! O MPLA prepara-se para gastar biliões. Mil milhões de dólares. USD 3.500. 000. 000.000,00 (três mil milhões e quinhentos milhões de dólares) para apresentar aos autóctones angolanos, um relatório sobre 50 anos de regime monocrático, com falso viés democrático (1992-2025).

A independência material sempre foi vista como um projecto privado e o MPLA faz disso alarde, como se Angola e os angolanos fossem sua exclusiva pertença. Uma cópia igual a dos escravocratas, quando os povos ambicionam uma independência imaterial…

O MPLA nunca partilhou, ao longo destas décadas, o palanque comemorativo, com nenhum outro ente político-democrático.

Nem mesmo Holden Roberto, que sugeriu a data de 11 de Novembro, nos Acordos de Alvor, para ser o da proclamação da independência de Angola, em 1975, mereceu essa honraria.

O ancião, recorde-se, foi o primeiro líder dos três movimentos de libertação a abandonar, por “motu proprium”, a luta armada, como forma de resolução do conflito. Mas nem isso foi bastante, para o MPLA lhe endossar, convite, que, muito provavelmente, daria sinais claros de pacificação e harmonização, capaz de calar fundo na UNITA e Jonas Savimbi, que descrentes no espírito de intolerância do MPLA, continua(va)ram nas matas, até os Acordos do Alto Kauango (Luena-Moxico) de 19 de Maio de 1991, assinado entre as tropas militares do MPLA (FAPLA-coronel Higino Carneiro) e da UNITA (FALA-general Arlindo Chenda-Ben Ben).

Do ponto de vista político-relacional com os partidos subscritores dos Acordos de Alvor: FNLA, UNITA, em 50 anos, o MPLA não conseguiu, sequer, esboçar sinais de conciliação (não sabe o que isso é), mas também de reconciliação…

A lógica de decapitação dos outros faz parte de uma agenda dantesca, onde Revolta Activa; Comandante Paganini, Ziguerou, Estrela (assassinados vivos em fogueira em 1968, numa base no Leste a mando de Neto); Daniel Júlio Chipenda (primeiro presidente democraticamente eleito do MPLA – Congresso de Lusaka-1974); Lourenço Casimiro, comandante Miro (assassinado na 1.ª Região, com conhecimento e impressões digitais de Benigno Vieira Lopes e César Augusto Kiluange); Nito Alves (27 de Maio de 1977) e 80 mil militantes com pensamento diferenciado, foram “dinamitados”, num verdadeiro genocídio político…

A arrogância e carácter ditatorial de Agostinho Neto, era tão grande que nem o levou a convidar aquele que o alcandorou ao poder no MPLA, Mário Pinto de Andrade, quando se cruzaram na Guiné Bissau, na condição de ministro da Cultura. Poderia ter-lhe convidado a regressar ao país e ou a presidir às comemorações da Independência Nacional. Não o fez a um intelectual de cinco estrelas, que nunca foi, nem era militarista.

Mais recentemente, a histórica FNLA, com o contributo “tenebroso” de Lucas Ngonda, acusado de receber “30 dinheiros” do regime, para defenestrar a histórica organização, que iniciou a verdadeira luta armada de libertação nacional, aos 15 de Março de 1961…

Hoje, votada a insignificância política, vive de “miudécimos” do MPLA, que lhe “outorgou” em 2022, dois deputados, para agir como partido-laranja…

Na calha segue a pretensão de implodir a UNITA, que deveria ocorrer em 2021/2022, para consumar o velho sonho de chegar aos 50 anos, sem nenhum outro partido histórico ou com coluna vertebral erecta… Quase conseguiu, mas ao que tudo indica, terá de chegar aos 52 anos (2027)…

É por tudo isso que não existe um vibrar transversal, na geografia mental dos cidadãos, sobre a celebração dos 50 anos de independência, em 11 de Novembro de 2025, quando a calema continua a vibrar num oceano de fome, miséria, desemprego injustiças, discriminação e prisões arbitrárias. Os quatro jovens presos políticos foram disso exemplo: Adolfo Campos, Tanaice Neutro, Pensador e Gildo das Ruas, por pretenderem uma manifestação, que sequer saiu…

O povo não acredita numa democracia de gatilho, que impõe vitória permanente a quem tem o domínio partidocrata dos arsenais bélicos e aplica à céu aberto, constantes golpes de Estado, político – jurídico – constitucionais, através de alterações à Constituição, Lei Eleitoral, Lei de Imprensa, Lei das Manifestações, Lei contra o vandalismo, composição da CNE (Comissão Nacional Eleitoral), Tribunal Constitucional, Tribunal Supremo, etc.

Tudo com a cumplicidade da comunidade internacional, que tendo ciência das falcatruas, as apoia, por obter contratos leoninos de controlo das principais riquezas nacionais, incluindo aqueles que deixam o povo à fome e desemprego.

O contrato de pescas com a União Europeia e proxys que levam o peixe dos nossos mares, através de grandes arrastões a baixíssimo custo, sem reciprocidade dos nossos barcos, poderem pescar, em mares europeus. Pelo contrário, impõem (com a cumplicidade e complexo dos governantes do regime, assimilados aos valores ocidentais), o fim da pesca aos angolanos, o desemprego dos pescadores, a escassa quantidade de peixe no mercado, resultando no seu elevado custo: AO 68.000,00 (sessenta e oito mil kwanzas), uma caixa de carapau, em 2025.

Nas comemorações dos seus 50 anos de independência o MPLA apresentará, ainda no seu quadro-tipo: 6 milhões de crianças fora do sistema de ensino. Três milhões e oitocentos, sem carteiras, quadros e casas de banho decentes, nas escolas públicas. Porque o regime destruiu as carteiras feitas com madeira de Angola, para importar as de “fosforite” em nome da corrupção e prejuízo das crianças.

50% de crianças sem nunca terem sido vacinadas. 15 milhões de famintos a vegetar pelas artérias das cidades e sitiando os contentores de lixo, vistos como únicos supermercados para os pobres se abastecerem e prolongarem, mais algumas horas de vida, aldrabando o estômago.

10 milhões de pessoas sem assistência médica, medicamentosa e milhões a braços com paludismo, malária, diarreia, doença de sono, VIH, etc…

Como se pode ver, excluindo a lupa, o programa económico, social e político, do MPLA/João Lourenço é carente de uma visão humanista, que descamba num poço, responsável pelo aumento da miséria e escravatura dos angolanos, que assistem, 50 anos depois as suas terras serem entregues a especuladores estrangeiros (diferente de investidores), que estão e vão colonizar o país pelo poderio económico e o sexo, com o aumento acelerado da natalidade, para que os filhos sejam, pelo “jus solis” e “jus sanguis” nacionais de Angola e superando os autóctones, venham a ter o controlo e domínio do território, impondo, quem sabe a sharia, daqui a 15 anos. Este será o mais glorioso balanço dos 50 anos do MPLA, que escancarou as fronteiras do país a muitos fundamentalistas islâmicos, também. Parabéns, antecipados, em Janeiro, porque o quadro é tenebroso e impõe um verdadeiro levante dos nacionalistas e patriotas angolanos, para não vermos, impávidos e serenos Angola soçobrar.

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